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No Limte do Normal

Há algum tempo atrás pensávamos o mundo como um todo dividido. Nos desenhos animados, de um lado estava o mal e do outro o bem. Na mesa, de um lado o doce, do outro o salgado. Na caixa de lápis de cor, de um lado o branco, do outro o preto. Nos filmes, nos livros, nas estórias, de um lado a vida, do outro a morte. Nas conversas, sentimentos e pensamentos, de um lado o normal e de outro o anormal.

Mas com a vida passando na nossa frente, muita gente pensando, aumentando o conhecimento e observando, conseguimos mudar esta construção por outro desenho que nos mostra que dentro do mesmo indivíduo convivem o bem e o mal. Na mesma aquarela o preto e o branco. No mesmo prato, o doce da fruta com o sal e a pimenta da carne. Na mesma cabeça os pensamentos lógicos e a fantasia.

Ela, a fantasia, já foi considerada a prima/irmã da loucura, porque o limite entre elas é tão difícil de ser delimitado quanto aquele entre o normal e o patológico.

Imaginamos o príncipe e ele, rapidamente, ganha os traços do monstro quando suas atitudes não correspondem à expectativa de quem o imaginou belo, lindo e perfeito! Transforma-se em monstro porque sua conduta não corresponde aos padrões, aos valores, as crenças e as tradições de uma época e lugar. Não corresponde aos requisitos mínimos do que é considerado “perfeito” e, portanto, normal.

E o “monstro” ganha fama de anormal, de desviante, de fora da lei, de fora da ordem e ganha também um rótulo, um número de diagnóstico, uma classificação. E assim o limite do normal se espreme, criando um novo círculo que quem está fora pode entrar e quem está dentro dificilmente sai.

O poder dos rótulos pessoais é tão grande quanto o da propaganda. A publicidade usa a repetição, muitas vezes de forma exaustiva, para convencer e para se fixar nos corações e mentes. Quando você menos espera aquele produto, aquela frase, aquela música já faz parte da sua vida. Fica impregnado, juntinho, acompanhando todos os seus passos para que você não pratique nenhuma traição ao produto, para que você seja sempre fiel a ele e para que você não fuja das regras. Os rótulos pessoais também seguem a mesma trajetória.

E quem percebe? E quem se incomoda? E quem reclama? Percebe, na maior parte das vezes, quem não aceita o produto. Quem não aceita o rótulo, a classificação, mas os argumentos são sempre fracos e incapazes de mudar os fatos.

Alguns vão dizer que pelo menos na contemporaneidade é possível questionar os rótulos e esticar o limite do normal para não passar para o lado do patológico, aquele ainda bastante confuso e indefinido.

Um pouquinho antes de agora, quem recebia o rótulo da anormalidade ficava confinado no isolamento e para sempre seria a pessoa que estava se afastando dos padrões comportamentais. Hoje ainda, apesar dos tratamentos, dos medicamentos e de uma compreensão maior do funcionamento e desenvolvi­mento do sujeito, o impacto de um diagnóstico, de um rótulo e de uma classificação da doença mental é devastador.

Somos tão diferentes. São tantas as possibilidades de ser. São tantos os contextos e tantos os processos da vida. Delimitar a existência do normal acaba transformando-o em um ideal, difícil de ser alcançado, pois ele faz parte dos conceitos, que não são determinados apenas por questões científicas, mas também pelas questões políticas, históricas, religiosas, sociais e econômicas, que são vivenciados por sujeitos em suas ações, pensamentos e sentimentos e sofrem variações.

Além disso, é preciso pensar que muitas vezes um aspecto isolado do comportamento, sentimento ou atitude, não pode ser responsável por caracterizar a essência de um sujeito. Afinal, estamos todos em uma busca incessante da identidade humana e é exatamente essa busca complicada e às vezes mal sucedida, que vai caracterizando nossa identidade.

Assim, o conceito de normalidade precisa incluir, não só a capacidade do sujeito de se adaptar às e­xigências do meio, mas também a capacidade de criar e seguir novas normas de vida, e uma concepção pessoal e individual do que é normal para si.

Cada caso é um caso, afirmam muitos. Então somos mais de 7 bilhões de casos!!! Cada um a ser analisado, observado, avaliado e rotulado de acordo com o seu caso. Por falar nisso, qual é o seu caso? Escrevemos nossa história com diferentes palavras, mas todas humanas, todas recheadas de sentimentos, experiências e vida.

Não, não estamos falando da ausência da doença, da patologia, do desvio. Não, não estamos falando que tudo é normal. Estamos aqui falando de uma linha que estica e encolhe dependendo do tempo, do lugar, da condição sócio econômica, das habilidades intelectuais, do caso!

Estamos falando de uma linha muitas vezes forte ao ponto que não conseguimos rompê-la e muitas vezes tão frágil que se mostra ineficaz.

Estamos falando do limite da auto estima, do auto conhecimento e do sofrimento psíquico.

E vamos continuar falando.....

Lenita Faissal
Psicologa Clínica e Educacional (PUC/RJ)
Especialista em psicologia escolhar
Metre em Educação (UFPB)



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